Sonhadora por natureza, Cátia Almeida é uma jovem artista que criou o seu próprio projeto: Vanilla Vice. Esta loja online já tem mais de um ano de existência e a cada dia que passa cresce mais, sendo a concretização de um sonho que Cátia já tinha há muito tempo.
“Sempre gostei imenso de desenhar”, revela Cátia. “Estava sempre a desenhar nas paredes, pintava os sofás com canetas de feltro, fazia coleções atrás das portas, porque a minha mãe dizia sempre ‘se queres fazer coleções nas paredes, faz atrás da porta que é para ninguém ver’”, conta entre risos. Mas diz também que a mãe foi uma das grandes influências da sua vida, pois sempre pintou quadros e vê-la pintar inspirava Cátia a imitá-la, em criança.
No entanto, foi devido a um amigo de família, o estilista Abílio, que Cátia começou a sonhar em desenhar coleções. “Quando eu tinha uns quatro ou cinco anos, eu e a minha mãe íamos de vez em quando tomar chá com o Abílio ao ateliê dele, e eu via os desenhos e as roupas e aquilo era super fascinante, ainda por cima nos anos 90 em que era tudo muito mais glamoroso, e acho que o bichinho veio daí”, relembra. “Ainda tenho os meus desenhos de vestidos que fiz nessa altura, porque eu chegava a casa super inspirada e fazia uma coleção inteira na altura, coisa que agora é super complicado, mas quando somos crianças é tudo muito mais fácil, fazia páginas e páginas e não tinha preocupações”, acrescenta.
A mãe, Isabel, diz que desde muito pequena que o seu desejo de desenhar e pintar era o mais forte nela. “Desenhava nas paredes e sofás, e tudo o que desse para escrever era dela. Sempre muito vaidosa com a sua roupa e só vestia o que gostava. Penso que o seu sonho de design de moda já estava latente”, afirma. E o seu sonho de criar coleções levou-a a tirar a licenciatura em Design de Moda em Castelo Branco.
Durante a faculdade, Cátia teve a oportunidade de participar num concurso em que um aluno podia desenhar as fardas dos atletas do Comité Olímpico Português e ganhava uma viagem à China. “Eu até não queria participar porque não gosto muito de fardas, e também porque o prémio era uma viagem à China para uma pessoa, e eu estava sempre a reclamar que a viagem devia ser para duas pessoas, mas acabei por participar e ganhei. E nessa altura toda gente disse ‘Estás a ver? É o karma, estavas sempre a reclamar e agora vais tu sozinha à China!’”, relembra entre risos, acrescentando que no final gostou da experiência e de ver os atletas vestidos com a farda que desenhou.
“Em pequena, mesmo desde bebé, teve sempre uma personalidade forte, nunca comia o que achava que não gostava, mesmo sem provar, e era uma criança determinada, amiga de todas as colegas e uma doçura cheia de paciência para os irmãos, que a seguiam de olhos fechados, pois o que ela dizia era lei”, comenta a mãe. Cátia tem dois irmãos mais novos, André e Diogo, que querem seguir pelas áreas de diplomacia e relações internacionais e de gestão, e por ser a mais criativa da família, Cátia diz que se vê como “a maluca lá em casa, porque todas as pessoas que são minimamente criativas são malucas”.
Isabel diz que a personalidade da Cátia se manteve desde pequena, e que ela continua a ser determinada, amiga dos seus amigos e caridosa com as tristezas alheias. “A sua melhor característica é mesmo a calma e paciência que tem para com todos”, afirma. A mãe acrescenta ainda que “a Cátia profissional é mesmo muito profissional, tem um ritmo ativo e não descura os pormenores”, e revela que vê o seu projeto como “a cara dela: tem a Cátia nos pormenores, nas escolhas, no seu bom gosto, e está a avançar devido à sua determinação e ao gosto e prazer que ela tem no mesmo”.
Percurso atribulado
Mas o sucesso do seu projeto, que apenas nasceu em julho de 2014, não foi imediato. Depois do curso, Cátia foi para Londres estagiar e, embora quisesse ficar pela Inglaterra, a questão financeira não lhe permitiu, pois o estágio não era remunerado e ela não encontrou outro trabalho na sua área. De volta a Portugal, deparou-se com a falta de trabalho no setor da moda e do design e teve de ingressar no mundo das lojas de roupa. Passou pela Zara, pela Lanidor, pela Trussardi e pela Furla, mas não estava verdadeiramente satisfeita com o seu trabalho.
Até que criou, com a sua melhor amiga Inês Maximino, um projeto de Styling, Design e Produções de Moda chamado Studio 11. “Ao início estávamos cheias de entusiasmo e fazíamos algumas coisas, mas como não tínhamos independência financeira, tínhamos de ter outros trabalhos a full time, e uma pessoa que trabalha todos os dias e tem duas folgas por semana não consegue fazer tudo, e as coisas foram-se desvanecendo e acabou por não se concretizar. Mas ainda durou cerca de um ano e foi bom porque aprendemos muito, fizemos imenso styling, produções de moda, videoclips, produções para revistas e foi muito giro”, recorda, afirmando que no geral foi uma boa experiência.
Apesar de continuar a trabalhar em lojas de roupa, o sonho de fazer algo diferente começava a ganhar forma à medida que se aproximava dos 30 anos. “Trabalhava na loja Furla, mas andava infeliz e a pensar ‘estou quase a chegar aos 30 anos e ainda não fiz aquilo que eu gosto’, e o meu namorado, o Carlos, estava sempre a dizer ‘tens de arriscar, faz aquilo que tu gostas, o que é que gostavas de fazer?’, e eu respondia ‘queria ter uma loja, mas uma loja sem dinheiro é impossível’. Mas no fundo ele foi a força impulsionadora que me deu motivação e a coragem de avançar”, revela. Cátia falou com a administração da loja para sair e eles concordaram. Com o pouco dinheiro que tinha começou a organizar o seu sonho: a loja da Vanilla Vice.
A concretização do sonho
O projeto foi lançado em julho de 2014 sem qualquer investimento externo, pois apesar de ter participado em diversas iniciativas de candidaturas a financiamento, nunca foi selecionada. Antes disso, e para angariar dinheiro, Cátia abriu um espaço para showroom e maquilhagem na Pensão Amor, no Cais do Sodré, mas a localização não se adequava ao seu projeto e decidiu ter apenas uma loja online. “No início queria angariar dinheiro para depois lançar uma coisa super profissional e tudo bem feito logo de início, mas fui aprendendo com os erros e apercebi-me que não era bem assim, que mais valia começar devagar e que não valia a pena estar a adiar mais: abri a loja online e comecei com o pouco que tinha, e descobri é muito melhor assim”, afirma.
Optou pela loja online por ser um meio em que é possível chegar a uma grande parte do público-alvo da loja em qualquer hora do dia, mas revela que é também muito trabalhoso. “Levar tráfego para a loja online é difícil porque hoje em dia as pessoas quase não visitam os sites. Então, todos os dias tenho de fazer publicidade para lembrar as pessoas que existo e elas irem lá ver. Todos os dias tiro fotografias aos artigos que recebo, mas tenho de esperar pela luz do sol certa, e depois tenho de editar no Photoshop. Com essas fotografias faço 2 ou 3 posts por dia no Instagram e Facebook, e já tenho bastantes clientes habituais que voltam a comprar, o que é bom, e sei que vem tudo praticamente das redes sociais”.
Para além disso, o seu dia-a-dia passa por responder aos e-mails dos clientes, comprar mais stock e entregar encomendas para os seus clientes nos correios. Cátia diz que “as pessoas acham que isto são coisas que se fazem rápido, mas não é assim: eu todos os dias me deito às 3 ou 4 da manhã e tenho trabalho o dia todo, e trabalho muito mais horas do que quando trabalhava nas lojas de roupa. Eu nem vejo televisão, estou sempre no computador ou a fazer as encomendas ou a fotografar”.
Admite que passa quase todo o dia online e que está sempre à procura dos melhores exemplos de lojas online para poder adotar as suas práticas. “A minha mãe está sempre a gozar que eu estou sempre na net, mas é verdade, estou sempre lá à procura de o que é que se usa agora, o que se vai fazer, faço cursos online de marketing digital e estou sempre a tentar aprender com os melhores, ver o que eles fazem bem e adotar essas técnicas, mas adapto sempre ao meu estilo”, relata. O seu interesse por marketing digital tem sido crescente e, como adora ler, o tempo que não passa a trabalhar no seu projeto é passado a aprender cada vez mais para melhorar continuamente. Também não dispensa a consulta de sites de moda, blogs, Tumblr e Instagram para se inspirar e estar a par das últimas tendências.
Costuma participar e representar a sua loja em encontros como a Feira das Almas, uma vez por mês, porque é um espaço para novos designers e pessoas com lojas em início de vida, e o sucesso das vendas é garantido: desde a sua primeira ida à Feira das Almas que consegue esgotar o stock dos produtos que leva consigo em apenas um fim de semana e aumentar o número de seguidores no Facebook e Instagram.
Revela também que todos os dias recebe e-mails a perguntar se a Vanilla Vice faz parcerias com bloggers, e por isso Cátia criou um programa especial em que ou faz um giveaway através de um passatempo para os seguidores dos bloggers em questão, o que aumenta o número de gostos para os bloggers e para a loja Vanilla Vice, ou faz descontos especiais para bloggers, o que acaba por recompensar com os posts que os bloggers fazem com os seus artigos, que levam a mais seguidores e mais vendas.
Uma blogger que segue atentamente o site da Vanilla Vice é Ana Marques, que conheceu a marca através do Instagram, pois viu uma fotografia de uma rapariga com uma mala comprada na loja online e foi à procura da página desta loja no Facebook. “Enquanto compradora não podia estar mais satisfeita, a Cátia é super atenciosa e o envio das encomendas é muito rápido! O packaging das mesmas e toda a comunicação da Vanilla Vice está de acordo com a marca e é muito cool. Eu própria tenho um blog e sempre que compro algo na Vanilla Vice faço questão de fotografar e incluir nos meus posts. Identifico-me bastante com a marca e com a identidade visual da mesma”, explica Ana.
O trabalho árduo compensa
O resultado que podemos ver hoje na loja online foi o fruto de muito trabalho. Cátia conta que demorou bastante tempo a construir um website que estivesse de acordo com o conceito que idealizou para a marca e que a incorporação dos métodos de pagamento online no website também não foi fácil.
“O projeto Vanilla Vice é um bebé da Cátia que há muito estava para nascer!”, revela Inês Maximino, a sua melhor amiga desde o 7º ano. “É um conceito e uma imagem que tem tudo para triunfar, é jovem e uma lufada de ar fresco às lojas mais banais, pois a indústria portuguesa neste campo sempre foi muito limitada e sempre que aparece um projeto de interesse é muitas vezes aniquilado pelas grandes marcas da high street ou não é de todo acessível monetariamente. Na Vanilla Vice os preços são acessíveis e os produtos fazem mais sentido, tendo em perspetiva a cultura pop atual que acontece em cidades como Londres, LA e Sidney. O compromisso de alma e coração que a Cátia tem com o projeto faz-me acreditar que muitas coisas boas ainda estão por vir!”, acrescenta, entusiasmada pela amiga.
Cátia revela que o feedback é muito positivo e mostra-se satisfeita com os resultados. “Todos os dias vendo alguma coisa e estou sempre a ter clientes novos. A loja está sempre a crescer, nunca retrocede, e eu estou satisfeita com o meu projeto e descobri que isto é realmente o que eu gosto, mais do que estar fechada numa fábrica a desenhar. Estou a adorar ter o próprio conceito e criar tudo de raiz, ter a minha loja e marca, e não me importo nada de trabalhar sozinha”, revela.
Diz ainda que sente que as lojas em que trabalhou acabaram por influenciar a construção do seu projeto, pois aprendeu aspetos comerciais importantes, como saber mimar as clientes e definir o seu próprio conceito. “Acho que as raparigas adoram porque não havia assim em Portugal um site tão girly e kuwaii com coisas diferentes, porque há muitas lojas para além das dos centros comerciais mas acaba por toda a gente ter o mesmo, e pelo menos o conceito as pessoas adoram, com os unicórnios e cor de rosa. Nas encomendas vai tudo num envelope dourado com confettis lá dentro e as pessoas dizem-me ‘ah é tão gira a encomenda, adorei os confettis!’, e acho que isso também ajuda na fidelização, por isso é que eu acho que tenho tantos clientes que voltam a comprar”.
Inês, a sua melhor amiga, revela ainda que admira o talento e criatividade de Cátia por ela ser uma pessoa extremamente trabalhadora, mas conta que “muitas vezes a Cátia não reconhece o seu próprio talento e valor”. Acrescenta que o seu lado pessoal é igualmente fascinante: “Ela é das pessoas mais verdadeiras e bonitas que conheço, não só obviamente por fora, mas especialmente por dentro. Tem um coração gigante e uma dose boa de loucura, é a minha amiga todo-o-terreno!”, afirma com entusiasmo.
Cátia admite que é muito organizada e perfecionista na vida profissional, mas mostra-se mais despreocupada na vida pessoal: “esqueço-me de ligar às pessoas, esqueço-me de responder às mensagens, os meus amigos queixam-se que eu nunca lhes ligo, mas às clientes eu respondo na hora”, conta entre risos. Revela que se vê a si própria como uma pessoa alegre e contagiante, embora um pouco insegura, mas acrescenta que consegue sempre encontrar a motivação que precisa para andar para a frente. “Acima de tudo sou muito otimista, acho sempre que as coisas vão correr bem, aconteça o que acontecer, acho que no final vai correr bem. Tenho sempre o sonho de que vamos todos ser ricos e viver todos muito bem e sermos todos muito felizes”, afirma, divertida.
O seu principal objetivo neste momento é arranjar financiamento para projetar e expandir a sua marca, porque quer diferenciar-se das restantes lojas online. “Não quero ser só uma loja online, quero ser ‘A loja online’, quero mesmo ser uma loja conhecida em Portugal e quero que quando as pessoas pensam em comprar online venham à Vanilla Vice”, diz com convicção.
Mas Cátia não esquece o seu sonho de criança e admite que continua a querer criar a sua própria linha de roupa para inserir na sua loja. “Quando era pequenina queria ser designer de moda, ter um atelier, fazer a minha própria coleção, e claro que ainda quero fazer a minha própria coleção, só que agora percebo que isso requer outro nível de investimentos e de contactos, até porque tenho de ter vários tamanhos e modelos. Estive a contactar muitas empresas que vendem roupa a retalho, mas todas me dizem que tenho de ter sempre um mínimo de grandes quantidades e agora não tenho capacidade de fazer isso. Mas quando era pequenina era só nisso mesmo que eu pensava e acho que foi mais por trabalhar em lojas que começou a surgir o meu lado mais comercial, porque antes disso eu só via mesmo o lado criativo e só queria era estar fechada num ateliê a desenhar. Mas é bom estar a criar o meu público-alvo e a formar uma loja online, porque assim quando fizer a minha coleção já tenho algum público e um canal de distribuição, o que torna as coisas mais fáceis”, remata, com esperança no que o futuro lhe reserva.