Hoje em dia, é comum olhar para o empreendedorismo como uma via alternativa para quem sai da faculdade e não quer ter um trabalho das 9h às 18h, ou para quem está insatisfeito com a posição de trabalho em que se encontra atualmente e quer criar as suas próprias oportunidades. Mas será o empreendedorismo a solução para todos os que enfrentam dificuldades profissionais?
Ser empreendedor, no mundo das startups, é criar um novo produto ou empresa, inovar e acrescentar algo ao mundo, embora num sentido mais lato possamos considerar o empreendedorismo como o processo de iniciativa que permite desenvolver novos negócios ou melhorias em empresas de produtos ou serviços já estabelecidas.
No meu trabalho, lido com o empreendedorismo todos os dias, e é uma área que me fascina e me inspira. Mas também vejo diariamente que não é tarefa fácil nem adequada para todos, até porque cada pessoa procura diferentes realizações pessoais na sua vida profissional.
Os empreendedores estão constantemente preocupados com o desempenho do seu projeto, com os lucros e o rendimento para pagar salários, com a felicidade da sua equipa e com a logística do negócio. Têm de estar sempre atentos ao que se passa à sua volta, têm de estar próximo do mercado para entender as suas preocupações e as suas motivações e adaptar constantemente o seu produto ou serviço de acordo com esse feedback, e têm manter a sua energia, entusiasmo e otimismo perante todos os stakeholders, sejam clientes, colaboradores ou investidores.
Por norma, os empreendedores têm um horário flexível, mas com tantas tarefas a realizar, acabam por trabalhar mais horas que os seus colaboradores. Sem mencionar os eventos, apresentações e sessões de networking em que precisam de participar para se manterem junto das pessoas mais relevantes da sua área de negócio.
Os empreendedores devem ter certas características intrínsecas, nomeadamente determinação e resiliência face aos obstáculos, e têm de ter um certo nível de maturidade, pois vão perceber que às vezes não é possível andar tão depressa quanto seria desejável, e têm de aprender a lidar com a frustração e o falhanço. Têm de resolver problemas todos os dias, têm de procurar feedback junto de clientes, investidores e parceiros, e estar sempre predisposto a melhorar o seu produto ou serviço. Acima de tudo, têm de ter uma capacidade de automotivação e de inovação acima da média.
No fundo, os empreendedores têm de conseguir gerir uma empresa e ter coragem de tomar decisões difíceis. Têm de ter predisposição para correr alguns riscos, ter uma boa capacidade de lidar com as pessoas e as suas diferentes motivações e aspirações, saber resolver conflitos e manter a equipa unida em volta da missão da empresa.
É importante que quem deseja enveredar pelo caminho do empreendedorismo saiba o que é pedido em contrapartida: muitas horas de trabalho e dedicação total. Seremos todos capazes de lidar com tudo o que é exigido de um empreendedor?
Na minha opinião, o empreendedorismo tem sido elevado a um nível de glamour e prestígio que esconde o trabalho que existe por detrás, um caminho árduo que nem todos estão dispostos a percorrer e um conjunto de sacrifícios que nem todos estão dispostos a fazer. No entanto, não há qualquer problema em aceitar que não somos empreendedores e preferimos trabalhar para melhorar uma empresa, produto ou serviço que já existe, sob o comando de outra pessoa.
O que interessa é encontrar o que melhor se adequa às nossas aspirações e sermos os melhores profissionais que podemos ser, desenvolvendo constantemente as nossas capacidades e abrindo cada vez mais os horizontes às novas ideias e transformações às quais teremos que nos adaptar ao longo da nossa vida profissional.